Aquele momento que antecedeu aquela grande reunião, feita naquela grande sala, daquela grande empresa, que está localizada naquele grande edifício, dessa grande cidade, neste enorme país, deste imenso lugar chamado Terra, me ajudou a enxergar que, o que realmente têm mais valor nessa vida, são mesmo as pequenas coisas.
Percebi isso depois que um pequeno curto circuito acabou queimando o aparelho de projeção de slides e o computador no qual o mesmo estava conectado, que iria fazer o aparato tecnológico daquele grande evento, impedindo assim, por um longo tempo, o início do lançamento daquele grande produto, feito a partir daquela grandiosa apresentação, envolvendo grandes pessoas e alta tecnologia.
Durante esse tempo em que alguns tentavam resolver o “probleminha”, resolvi ir tomar um copo d`agua, num pequeno filtro que ficava fora daquela grande sala. Foi quando, ao pegar o pequeno copo plástico, acabei deixando cair outro, após o mesmo enroscar no pequeno suporte fixado à parede com um pequenino prego. Sendo assim, ao abaixar-me para pegá-lo, meus pequenos olhos foram de encontro a uma pequena fotografia, estampada em uma revista que estava numa mesinha ali ao lado, rodeada por demais objetos grandes, inclusive mais chamativos, mas que foram menos atraentes para mim, naquele momento.
A foto era pequena, mas no tamanho suficiente para despertar e trazer à tona, um pequeno fragmento da minha memória, que por sinal não é curta. Um fragmento repleto de coisas fisicamente pequenas mas não de menor valor.
Olhando aquela foto me lembrei de quando tive a oportunidade de conhecer um pequeno pedaço desse mundo, na companhia de um pequeno pedaço de mau caminho. Pequeno pedaço pois sua altura era 1,60 m., mas como tamanho não significa nada, aproveitamos e muito, aqueles pequenos momentos que se tornaram intensos, dentro de nossa pequena suíte daquele transatlântico, no qual tive o privilégio de estar ali, graças a um pequeno pedaço de papel que preenchi em uma promoção, após ter comprado um pequeno frasco de perfume francês, que, diga-se de passagem, comprei com meu pequeno cartão de crédito, sem nem mesmo imaginar que naquele momento, estava comprando não só um objeto, mas também um pequeno pote de ouro disfarçado, que só fui saber de seu verdadeiro conteúdo, dias depois quando recebi uma ligação, em meu pequeno aparelho celular, de uma pessoa que me avisava do tal prêmio.
Depois de viajar nesse pequeno episódio de minha vida, me peguei parado com um copo de água na mão sem nem mesmo ter tomado, e sem a mínima noção de que o tempo previsto para começar a tal reunião havia se esgotado, conforme indicava o meu pequeno relógio de pulso que na ocasião eu usava.
Foi nesse instante então, que eu voltei ao meu pequeno mundo, cheio de coisas grandes mas de menor valor.
Um mundo onde a sucessão das horas, dias e anos que nos dá a consciência e idéia de passado, presente e futuro, chamada tempo, se apresenta como um paradoxo.
O paradoxo do nosso tempo. Tempo esse que, como já disse, naquele momento, para mim havia se esgotado, mas ainda suficiente para engolir de uma vez a água que estava dentro do copo, jogar o mesmo dentro de um pequeno lixo, voltar à realidade de onde eu estava e dar alguns passos para retornar à grande sala que de certa forma, tinha me ajudado a desencadear algumas recordações que antes estavam escondidas na correria dos dias, mas que agora tinham sido libertadas a tempo de perceber a confusão de nosso tempo.
O nosso tempo... aliás qual tempo ?
Já que gastamos mais, mas temos menos; compramos mais, mas desfrutamos menos.
Temos casas maiores e famílias menores; mais graus acadêmicos, mas menos senso.
Mais medicina e menos saúde.
Bebemos e fumamos demais, mas rimos de menos.
Dirigimos rápido demais e também nos irritamos muito facilmente.
Ficamos acordados até tarde e acordamos cansados.
Raramente paramos para ler um livro, mas bastante tempo diante da TV.
Falamos demais, mas oramos de menos.
Amamos raramente e odiamos com muita freqüência.
Aprendemos como ganhar a vida, mas não como vivê-la.
Adicionamos anos à extensão de nossas vidas, mas não vida a extensão de nossos anos.
Já fomos a Lua e dela voltamos, mas temos dificuldades em atravessar a rua ou mesmo conversar com um vizinho.
Assim produzimos mais cópias, mas temos menos comunicação.
Temos avanço na quantidade, mas não em qualidade.
Limpamos o ar, e poluímos a alma.
Escrevemos mais, e por outro lado aprendemos menos.
Planejamos mais, e realizamos menos.
Temos refeições rápidas e digestões lentas.
Grande variedade em comida e menos nutrição.
Temos mais lazer e menos diversão.
São dias de viagens rápidas, fraldas descartáveis, ficadas de uma noite só, corpos acima do peso e pílulas que fazem de tudo : alegram, aquietam e matam.
Muita vitrine e nada no estoque.
Sempre corremos contra o tempo, mas não sabemos esperar com paciência.
Estamos no meio desse tempo mas espera aí...
Você não tem que resolver algum problema não ?
Eu mesmo me fiz essa pergunta enquanto escutava, mas não ouvia, sequer uma frase do cara que estava fazendo aquela grande apresentação, naquela grande sala de reunião.
E assim, enquanto o mesmo dissertava sobre o assunto apresentado, resolvi anotar em uma pequena folha de papel, que estava ao meu alcance, uma frase que me veio à mente naquela hora, para não correr o risco de esquecer a idéia principal do texto que mais tarde eu pretendia escrever, e escrevi. Texto esse que agora você está lendo, inclusive sendo fechado com a pequena frase que deu início a todo ele :
“Por mais que você viva no inferno, o importante é estar sempre com a cabeça no paraíso”.
Obs: O texto acima possui uma quantidade maior de palavras do gênero e sentido menor.
Porém essas palavras, e todas as outras, são importantes para a construção do mesmo.
Isso prova, mais uma vez, que não importa o tamanho das coisas que temos, mas sim o valor que damos a elas.
FF
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