NOITE CERTA

Certa noite eu conheci uma garota que faria todas as manhãs seguintes, serem azul.
Pele morena, mas não vinha do Norte, não tinha olhos claros, mas vinha do Sul.
Falando palavras diferentes de todos daqui, pãozinho é cacetinho e menino era guri.
Mostrava versatilidade com as palavras e parecia, ter nas mãos, as mesmas habilidades.
Falava de suas origens, vontades, influências, novidades, além de coisas sobre o Japão.
Passeava sobre danças, crenças, costumes e cartas, família, pais, parentes e irmãos.
Depois sentou, como faz na terra um grão, calou-se, pegou um copo e ouviu a canção.
E assim eu, bem de mansinho, ajudado pelo vinho, misturado com os carinhos, sentidos no escurinho, que me acertavam aos pouquinhos, percebi que no caminho, dentre as flores e espinhos, existe sempre um ninho, de um pequeno passarinho, que mesmo bem baixinho canta, e com seu canto, encanta.
Cantei, cantou, encantamos. Parei, parou, paramos. Olhei, olhou, nos olhamos. Conversei, conversou, conversamos. Simpatizei, simpatizou, simpatizamos. Nos atraímos e beijamos.
Cheia de paixões, saudades e emoções, pelo olhar vazava sentimentos de muitos corações.
Paixões pela família, paixão por sua terra, pelo ar que só há nela, pelas ruas da cidade e pela vista da janela. É a paixão por suas paixões que fazem emocionar de tanta emoção.
Saudade misturada com vontade de ir e voltar, partir e ficar, numa invisível e eterna ponte, difícil de construir, mas fácil de imaginar, encurtando a distância que insiste em incomodar.
Fui entendendo sua trajetória, e conhecendo um pouco de sua história, pude resumir sua, até então, estada aqui, em poucas mas suficientes palavras, como faz um bom narrador, utilizando-me do esporte mais conhecido, e por ela querido, onde assim como ele, me senti aplaudido, por ter conseguido fazer com louvor, o compacto do grande lance, usando o que o seu dia-a-dia escrevia, sem temor e sem lembrar do seu time querido, e nem do seu arquiinimigo no Sul, o tricolor. Resumidamente a narração ficou :
Ela chegou, olhou, pensou, gostou, ficou, trabalhou, se adaptou, errou, brigou, acertou, mudou, chorou, enxugou, foi, voltou, outra vez mudou, insistiu e só faltou mesmo o gol. Mas será que ela já não marcou ? Ou precisa esperar o barulho da torcida para saber ? Mas e se não tiver torcida ? Ou, se a torcida resolver pegar no pé ? Até por que torcedor é assim mesmo. Às vezes por conta de uma pequena falha, devido à falta de experiência ou mesmo pela fase ruim, é o suficiente para irmos de herói a vilão, esquecendo tudo de bom que passou e só lembrando das coisas ruins que ficou. Mas uma coisa ele não muda, a vibração.
Vibração pelo seu time de coração, por aquele que te dá emoção, e que vale a pena torcer, onde quer que seja o jogo, em São Paulo ou no Sul, a torcida é sempre a mesma, seja numa noite certa e escura, ou num dia errado mas de céu azul.
Bom seria se o mundo fosse como nos primórdios, no começo, bem lá atrás no passado, onde tudo era junto, um só pedaço de terra, sem fronteiras de países ou limites de estados. A distância continuaria lá existindo e presente, mas pensar assim fica mais confortável para a mente, sem ter que lembrar que, para lá chegar, um ônibus, carro ou avião, precisamos primeiro pegar, esperando e atravessando longas horas que começam bem antes incomodar.
Era uma noite quando vi pela primeira vez, mas logo clareou. Era um dia que passamos juntos, mas logo aumentou. Era uma atração quando beijamos, mas logo mudou. Eram apenas palavras que eu ia escrevendo, mas logo rimou. E assim é o mundo, o hoje não é igual ao ontem e tão pouco como o amanhã. Ele gira, muda, leva, traz e atenta como também fazia no início a maçã.
Não sabemos onde vamos parar, mas a torcida e a noite certa, essas, estarão sempre por lá.

FF

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