ANATOMIA

Dois pés pequenos que devem estar sempre no chão;
Pernas, que apesar de não gostar delas, acredite : chamam a atenção;
Cintura fina e um belo quadril, o suficiente para acender o pavio;
Barriga, nenhuma, mas como todas as mulheres acham, todas e mais algumas;
Braços macios, que quando abraçam, acabam com o vazio e o frio;
Como todo animal que adora cheirar, o cheiro no pescoço me deixa fora do ar;
Mesmo não vendo fico imaginando, te falando perto da orelha pra poder escutar;
Um nariz delicado, que assim como de uma boneca, parece ter sido desenhado;
Boca gostosa que queria ter sempre aqui, dona do sorriso mais bonito que já vi;
Seu olhar fascina, o espelho da alma reflete sua pureza e beleza de menina;
Pele de seda e outras partes tão boas que prefiro não comentar... só imaginar;
Por fim o interior... o conteúdo essencial para apreciar, gostar e não mudar.
Mas se por ventura o tempo passar e alguma coisa ele mudar, tentarei aceitar.
Aceitar que as coisas se modificam, e que algumas coisas que gostava pode não retornar.
Mas que bom seria, se todas elas pudessem voltar.
Voltar a perceber que se aquele interior mudou foi pra melhor,
Voltar a sentir o que só aquela pele tem, até mesmo o suor,
Voltar a esbarrar naquele olhar que um dia me fascinou,
Voltar a ver o sorriso mais bonito que já vi, mas que por um tempo se fechou,
Voltar a redesenhar o nariz, mesmo com os olhos fechados,
Voltar a falar ao pé da orelha enquanto me olha de lado,
Voltar a cheirar o mesmo pescoço que já me tirou do ar,
Voltar a abraçar, para esquentar e com o vazio acabar,
Voltar a ver a barriga, a cintura, o quadril... enfim
Voltar a sentir de novo aquele esquecido arrepio,
Voltar a ver as pernas e lembrar como começou,
Voltar a ver que aqueles pequenos pés continuam no chão,
E torcer para que, após uma dura lição, o filme da vida real possa ter continuação, será ?
Mas é impossível voltar, pois estamos sempre indo.

FF

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