Numa imensa planície, sozinho eu caminhava, enquanto ao longe já avistava, uma elevação se formando.
Um gigante, que subia da terra eu via se levantando, enquanto meus olhos ainda mais abriam admirando.
Quanto mais crescia a minha frente, mais aumentava minha vontade de chegar cada vez ainda mais perto.
Aos pés do gigante, sob sua sombra ainda maior, o céu brilhava no topo, parecendo reservar o paraíso.
O paraíso que atraía era distante, querendo ser atingido, mas para isso o Colosso tinha que ser vencido.
A força, a vontade, a persistência e a resistência unidos a paciência eram as cordas que fariam escalar.
A altura nunca me meteu medo, o risco da queda após chegar ao topo talvez, mas mesmo assim, gosto.
Era quase uma planície na vertical, uma parede enorme, mas eu sendo muito menor, essa é a vantagem.
Ninguém tropeça em montanhas, por isso os papéis se inverteram, e era ele que tinha que ter cuidado.
Mais baixo do que onde eu estava não poderia ficar e foi a gota d´água que faltava para eu me arriscar.
Eu passei a ser o maior problema dele, caso me notasse, e a altura do desafio era o que me fazia subir.
Estava movido por tanta gana que nem precisei de equipamento e comecei me agarrando com as mãos.
Meus braços sentiam toda a força do gigante e se igualava a ele mesmo. Um gigante escalando o outro.
Quase na metade, sem querer olhei para o chão, e a vertigem repentina foi a única coisa que deixei cair.
Corpo e mente trabalhando juntas, passei fácil da metade e aquele enorme ser, diminuía conforme subia.
Eu era o elemento surpresa, aquele que faz a diferença, que desequilibra, que ataca sem nem ser notado.
Não era a névoa, mas embaçava os olhos daquele que tentava me enxergar, mesmo em um dia límpido.
Da altura em que eu estava, conseguia ver e perceber o tamanho da planície de onde eu vinha andando.
Era do tamanho da vida, numa extensão de deserto onde tinha de tudo e tudo em excesso, bem e mau.
Um sentimento vazio tomou conta de mim, sem pensamentos, por um instante parado no alto e o vento.
O vento que batia, vinha de todos os lados, embaraçando meus cabelos e secando o suor que brotava.
Com meus braços e pernas, passei pelos seus e numa última investida cheguei aos ombros planos no ar.
Olho no olho eu estava, preparado e atento a qualquer dilatação de adrenalina típico de um ameaçado.
Frente a frente com o inimigo que tinha imaginado e não tinha se declarado, sua reação foi assustadora.
Ao invés de um olhar bruto como sua aparência, o mesmo se amenizou puxando os trechos de sua face.
Numa espécie de sorriso, sem mostrar os dentes, daqueles típicos que saem da alma, veio me atingindo.
Não precisou dizer, eu senti pelo olhar e pela expressão que dele saia, que sentia-se feliz por me ver ali.
O olhar não tinha raiva, ira ou qualquer outra expressão que me faria cair, ao contrário pedia para subir.
Eu, sem entender, desconsertado e surpreendido pela reação, continuei pois meu foco era o tal paraíso.
Continuando a subida pela lateral sentia ainda mais forte o vento que agora embaraçava nossos cabelos.
Problema maior agora, era vencer o vão entre o vento e o vácuo, manter o equilíbrio era a adversidade.
Mas, sem desrespeitar a natureza, aquilo era o de menos, pois tinha passado o gigante e pertinho do fim.
Minhas duas mãos foram as primeiras a sentir os raios dourados que vinham do topo muito além do topo.
Era como se estivesse rompendo a barreira entre o possível e o impossível tão distante visto lá de baixo.
Levantei e novamente tocava os pés num chão, agora numa distante tão alta que nem sei se era um chão.
Com todos os membros novamente estendidos, senti uma força misturada a todo meu sangue que corria.
O gigante acabara de ser escalado, o medo e a ansiedade eram passado e o presente era o meu presente.
A visão de cima era maravilhosa e a imensidão assustava assim como o gigante, como o mar, como tudo.
O suave balanço do caminhar do Colosso, embalava meus pensamentos, me relaxava e me fez vencedor.
O podium era o mais alto que já havia subido mas não suficiente à me convencer a nunca mais sair dele.
Entre o vento, o céu e a terra, percebi que o gigante não havia sido vencido, mas sim se tornado aliado.
Tinha valído a pena ter me escutado e aceitado minha vontade, a recompensa era o crescimento interno.
Por um período curti minha vitória na mesma intensidade em que curti minha escalada, desde a planície.
Mas não podia e nem queria caminhar com ele por muito tempo, pesava para ele e incomodava à mim.
Parecia que já tinha feito o impossível, subindo tudo aquilo, mas eu queria mais e precisava fazer mais.
Numa altura que sempre quis alcançar, agradeci pelo gigante existir, mas tinha chegado a hora de partir.
A descida talvez fosse mais perigosa que a subida e provavelmente com menos emoção e entusiasmo.
Na cabeça do ser enorme, me surgiu uma idéia que de tão grande nem sei como foi parar bem na minha.
Se dizem que o céu é o limite, e eu já tinha alcançado, inconstante como sou senti a vontade de passar.
A altura era a ideal, a vontade de tão forte quase me fazia levitar, pensei em me jogar e quem sabe voar.
Tomei distância, coragem sobrava, fechei os olhos, senti uma mudança que me fazia expandir ainda mais.
Corri, nada mais me faria parar e a cada passo largo que dava o vento se fazia ainda mais a meu favor.
A dois passos da beira, lembrei faltar algo, mas internamente tinha e tenho tudo que pode mudar tudo.
Saltei e podia sentir o vento bem quente que rapidamente passou por mim, que saía da boca do gigante.
Tudo passava muito rápido, parecia o tempo numa cidade grande, e o vento aumentava e agora cortava.
Na altura da cintura do Colosso, senti que era a hora, segurei o ar, me concentrei e serenamente sorri.
Foi exatamente no momento em que rompi a fronteira entre dois objetivos, o já alcançado e o iniciado.
Duas asas se abriram em mim, o vento virou brisa e poderia planar enquanto fazia planos de aonde voar.
O gigante, a queda, o medo, tudo deixava para trás agradecendo por terem existido e as asas terem saído.
Meu objetivo agora era procurar um novo objetivo, pois tudo aquilo que precisava e precisei está em mim.
As asas, as cordas ou qualquer outra coisa que preciso, posso fazer surgir, assim como os medos que dá.
A planície era mesmo grande, gigante. O gigante agora já era menor e ia sumindo junto comigo que partia.
O chão me atraia, mas com asas o que eu mais queria era viver o sonho de voar onde antes não podia estar.
No momento eram as asas que estavam me levando além do céu, mas sei que vou precisar de muito mais.
Em cada situação da minha vida e essência inconstante, os cenários, as planícies, os objetivos irei modificar.
Mudarão somente isso e quando muito os equipamentos, mesmo assim continuarei sendo sempre o mesmo.
FF
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